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A Graça é Jesus ou apenas um atributo Dele?
“Porque todos nós temos recebido da sua plenitude (Jesus) e graça sobre graça.” (João 1:16)
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16
Não sou contra a teologia, de forma alguma. Entretanto, sou contra o mal uso que muitos fazem dela ao limitarem sua visão de Deus e da bíblia apenas ao que estudaram. No intuito de expandirem seu conhecimento sobre o Senhor e Sua palavra, contraditoriamente, acabam colocando tudo dentro de uma caixa – Deus é isso, Deus é aquilo, Deus não é assim, nem age dessa forma… Com essa atitude, o caráter vivo e dinâmico da Palavra fica de lado e já não são mais ensinados pelo Espírito Santo, tornaram-se mestres de si mesmos. A teologia não é algo ruim; existem escolas teológicas excelentes. O ruim é concluir um curso e, juntamente, concluir seu conhecimento sobre Deus.
O autor de Hebreus diz algo muito interessante acerca da Palavra: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus 4:12). A Palavra não é estática e finalizada; não se trata de letras gravadas em uma pedra fria e sem vida. Ela é viva e se move, interage conosco, nos envolve, penetra na alma, dá sentido à nossa existência. Embora sendo tudo isso, ela é imutável e eterna! Permanece com suas características e seu poder. Ela jamais passará. Deus a enviou, e ela não voltará para Ele sem que tenha imputado vida a nós. Eu ouso dizer que a palavra se expande ao cumprir seu propósito em nós.
Quando a Palavra (Verbo) se fez carne e habitou entre nós, foi possível tocá-la, senti-la, andar com ela, e receber sua vida. Esse “receber” é algo tão profundo que pode ser comparado ao ato de comer; então, comemos a palavra, nos alimentamos dela. Receber a Palavra, no contexto bíblico, não é um simples entender mentalmente, mas um interagir do nosso espírito com ela, que acontece quando o homem está aberto para ser ensinado continuamente. Nisso, vejo que a Palavra se faz carne de novo, e de novo, e de novo, a cada vez que a recebemos. Nos tornamos uma extensão dela. Contudo, quando colocamos limites ao que sabemos sobre Deus e Sua Palavra, a Bíblia se torna um livro qualquer que apenas traz um conhecimento meramente humano e já não pode ser experimentada, nem “digerida”; assim, ela deixa de emanar vida.
Percebo que muitos debates cristãos pecam e não chegam a lugar algum porque sua visão é limitada, pois não é um conhecimento como resultado do relacionamento do homem com a Palavra de Deus, mas é conhecimento adquirido através de determinado movimento teológico. E qual movimento é o correto? Calvinismo, arminianismo, pentecostalismo…? Eu nunca me identifiquei com nenhum deles; fico com a Palavra de Deus! Procuro não apenas entendê-la para apontar o erro teológico do outro, mas procuro me relacionar com Ela, de forma que eu receba a Sua vida e repasse essa vida aos outros.
Todos sabemos, através do apóstolo João, que Jesus Cristo é a Palavra de Deus, que se fez carne (Jo 1: 1, 14). E João afirma que “todos nós recebemos da sua plenitude e graça sobre graça (1:16; grifo meu)”. De acordo com o discípulo amado, não recebemos lei sobre lei, ou conhecimento sobre conhecimento. Recebemos graça sobre graça! Entendo esta expressão como um expoente na matemática, como 1010, em que para se chegar ao resultado, multiplicamos 10 por 10, e o resultado disso por 10, e assim mais 8 vezes esse cálculo. Graça sobre graça, então, é uma graça multiplicada por si mesma, ondas de graça sobre a última graça recebida; é receber graça estando ainda experimentando a última recebida.
Tem algo particular na Bíblia, especialmente nas cartas do Novo Testamento, que eu amo. Sendo formado em Letras, aprendi um pouco dos vários estilos de linguagem e como adentrar no texto e na intenção do autor. Na Bíblia, por muitas vezes os escritores usaram palavras ou expressões como essa de João, quando não sabiam exatamente a dimensão da verdade divina. Por vezes, eles não encontravam uma palavra que definisse com precisão a profundidade do que o Espírito lhes ministrou, e recorreram a expressões que pelo menos dão a ideia de que é algo realmente grande, extenso, e maravilhoso: “graça sobre graça”, “tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”, “abundantes riquezas de sua graça”, “vida com abundância”, “amou o mundo de tal maneira”, “as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade”, “paz que excede todo o entendimento”, etc. É preciso dar especial atenção a tais expressões, pois elas nos fazem meditar sobre o que Deus tem para nós. E, em se tratando da Palavra de Deus, somos tomados de grande admiração (e até de assombro!), e o que nos resta é agradecer e adorar ao Senhor!
Voltando ao texto de João, percebam que ele afirma que a Palavra se fez carne e a identificou com o próprio Jesus. Então, ele diz que recebemos dele graça sobre graça (Jo 1:14). A Palavra trouxe a nós graça sobre graça, ou seja, graça abundante, mais do que podemos suportar. Essa graça é a própria vida de Deus, capaz de gerar e manter vida em tudo e todos que ela toca. O homem sem Deus não tem vida. A vida que tem é passageira, é um sopro, uma erva que nasce hoje e se seca amanhã. Mas a vida que vem de Deus é eterna. Por isso, ao colocar em prática o clímax do plano de salvação, Deus enviou Jesus, que é a expressão exata do Seu ser (Jo 14:9; 12:45; Hb 1:3; Cl 1:15). Isso significa que não podemos ver no Pai nada além do que vemos no Filho. Por isso, é imprescindível ler o relacionamento de Deus com o homem no Antigo Testamento somente a partir de uma ótica de Jesus para não termos uma visão errada do Pai (pois criar uma imagem errada Dele seria como construir um deus diferente, ou um ídolo!). Deus nos amou de tal maneira que nos deu Jesus! Ele não poupou o que de mais precioso tinha, Ele foi exageradamente gracioso e generoso. E Cristo nos deu graça sobre graça, porque deu a Si mesmo, a Sua própria vida a nós (Jo 10:18).
Talvez por falar muito sobre graça e abundância de graça, alguns me rotulariam como adepto ao movimento hiper graça (também por eu fazer parte desse blog), ou que sou um pregador da graça, mas como disse antes, não me identifico com movimento nem rótulo algum. Me considero apenas como alguém alcançado pela graça do Senhor Jesus, feito assim, um filho de Deus. Muitos têm criticado esse movimento hiper graça, dizendo que o seu foco é apenas um atributo de Deus. Porém, é importante apontar algo extremamente importante: a graça não é um simples atributo de Deus, ela é o próprio Deus! No relato de João, ele afirma “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). O termo grego usado para o verbo “vieram” é o egeneto (= veio, 3a pessoa do singular). Portanto, de acordo com o escrito original grego pelo uso do verbo no singular, graça e verdade são a mesma coisa; a graça é a verdade, e veio na pessoa de Jesus. Aí entendemos a primeira parte do versículo 14: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade”. A Lei é algo e só pode ser dado. A graça/verdade é uma pessoa, por isso veio! Cristo é a personificação da graça e da verdade!
Se lemos a bíblia sem a perspectiva de Cristo, entenderemos graça como apenas mais um entre os atributos de Deus (santidade, justiça, amor, etc…). O problema com isso é que a essência de alguns atributos será prejudicada. Por exemplo, entenderemos que Deus é graça, mas também é justiça, e por isso Ele punirá os nossos pecados; entenderemos que Deus é graça, mas também é verdade, e por isso Ele apontará as nossas falhas. Mas a Cruz é o que nos leva a entendermos que Deus é tudo isso, sem contudo, ser contra nós, mas a nosso favor. Em outras palavras, por causa de sua graça, Deus pode ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus, porque Cristo foi punido em nosso lugar. Por causa de Sua graça, Deus pode ser santo e santificador, porque o sangue de Cristo nos santificou e nos aperfeiçoou (Hb 10:14) e o próprio Jesus se tornou a nossa santidade (1 Co 1:30). Por causa de Sua graça, Deus pode ser imutável e imputou sua imutabilidade no nosso caráter, pois nos tornamos como Cristo é (1 Jo 4:17). Por causa de Sua graça, Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu único Filho! Portanto, a graça manifesta os atributos de Deus, que somente através de Jesus, não nos consomem, mas nos preenchem de tudo o que Ele é.
A hiper graça não foca apenas na graça de Deus, como se fosse uma parte isolada do caráter dEle. A hiper graça entende que a graça é o próprio Jesus, e este é a expressão exata do Pai, que se manifesta nas suas variadas nuances para nos tornar plenos Nele. Não é uma questão de ver Deus apenas por um ângulo, mas é exatamente ver Deus de todos os ângulos de uma só vez, o que é só possível apenas através de Cristo. A graça é o que verdadeiramente nos permite experimentar a Palavra, não apenas conhece-la. Sem a graça, a Bíblia pode ser manipulada e se torna uma arma que nos afasta de Deus e do próximo, contrariamente às nossas intenções. As nossas discussões e debates teológicos (e seus resultados lastimáveis) acabarão quando entendermos que a graça nos basta, e ela se manifestou favorável por nós e para nós. Ela é o resumo de quem Jesus é!
A crença de muitos irmãos sobre a graça é de que ela é apenas um dos atributos de Deus. A graça é apenas uma parcela de toda a essência do Ser de Deus. Por isso muitos afirmam que definir Deus a partir da Graça é defini-lo de modo reducionista, sem mostrar o quadro total de seu caráter. Dizer que Deus é a Graça é ser simplista e tentar resumir a excelência do caráter de Deus em apenas um de seus atributos.
Segundo essa crença, a Graça é um dos atributos de Deus e não devemos enfatizá-la e separá-la dos demais atributos. Todavia, a Bíblia parece nos dar outro panorama. Ela nos diz que a Graça está envolvida em nossa salvação, redenção, santificação, discipulado, vida diária e tudo que envolve o Evangelho. A Bíblia coloca uma ênfase gigantesca na Graça de Deus e proclama que cada aspecto de nossa vida está envolvido nela. Isto é porque cada parte da nossa vida está envolvida em Deus, e Ele coloca o seu Ser em cada parte de nossas vidas. Que Ser é esse? A Graça, ela é a essência do Ser de Deus.
Dizer que Deus é a graça não é ser “reducionista” justamente porque a Graça não é reducionista. Ela é completamente exuberante e perfeita, enfatizada de modo único e sublime como Deus. A Graça é indescritível na Bíblia. Os adjetivos para tentar defini-la são completamente exagerados e superlativos. A Graça é suficiente (2 Co 12:9; 9;8), abundante (Rm 5:15,17,20; 2 Co 9:8; 1 Tm 1:14). A Bíblia descreve “as riquezas da graça” (2 Coríntios 9:14; Ef 1:7; 2:7). Paulo diz que a graça “se manifestou”, “apareceu” (Tito 2:11), quem se manifestou? Jesus. A Graça é Jesus.
A Graça é super, hiper, mega, use os adjetivos que desejar porque nenhum deles consegue descrevê-la completamente. A infinita adequação de Deus é expressa na Graça. A Graça é tão indescritível que só um nome pode defini-la: Deus. Deus é tão indescritível que só um termo pode defini-lo: Graça.