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Batalha Espiritual: O Que o Evangelho diz a Respeito
Existe alguma forma de batalha espiritual na Graça? O tema da batalha espiritual é bastante controverso, gerando diversas polêmicas no meio cristão. Nesse estudo, meu objetivo é trazer esclarecimento sobre esse assunto a luz do Evangelho da Graça.
O conceito de batalha espiritual no cristianismo em geral
Geralmente no meio cristão o assunto de batalha espiritual está inserido em um campo muito místico, oculto, e repleto de superstições.
Existem, é claro, inúmeras opiniões diferentes sobre o assunto dentro da cristandade. Por exemplo, cristãos tradicionais e reformados podem concordar com o termo “batalha espiritual” quando é aplicado a luta diária do crente contra as tentações do maligno. Já carismáticos e neopentecostais (grupo que se refere a terceira onda do pentecostalismo brasileiro) tende a incorporar elementos místicos, espirituais e ocultos nessa questão. Eles acreditam que o crente está constantemente em uma batalha contra os poderes das trevas.
É aqui, provavelmente, que surgiu a famosa ideia de que todo acontecimento ruim ou fora de ordem na vida do crente é “coisa do diabo” (furar o pneu do carro seria um exemplo). Satanás, está a todo tempo em uma luta direta contra os crentes. Embora essa opinião pareça verdadeira a luz da Escritura, veremos mais a frente os problemas que carrega.
A partir dos exageros neopentecostais, vemos posições ainda mais extremas sobre a tal batalha espiritual. Alguns grupos, focados nessa luta, procuram descobrir quais ferramentas o cristão deve usar na batalha contra as trevas. Essas “armas” e equipamentos espirituais vão desde a sal ungido, até a objetos consagrados para atingir satanás e seus demônios.
Eles também mergulham na dimensão da existência dos demônios, procurando descobrir seus nomes, funções, objetivos etc. É claro, todo esse arcabouço criativo não pode ser derivado da Escritura. Não há base bíblica para todos esses detalhes, e isso é um verdadeiro tiro no pé daqueles que reivindicam essa posição. Entretanto, os adeptos desse misticismo parecem concordar com isso, pois procuram basear suas posições e conclusões em fontes extrabíblicas, em livros de seitas, ocultismo e de outras religiões.
A ideia de mapeamento espiritual, que consiste em descobrir onde um demônio está localizado, o ensino de que o crente deve vestir a armadura de Efésios 6 de forma constante e diária, antes mesmo de tomar o café da manhã, dentro outros ensinos, são característicos desses movimentos.
A visão do Evangelho da Graça sobre o assunto
Diferente de tudo isso, o Evangelho da Graça redefine todo o conceito de guerra espiritual a partir da cruz. Cremos em uma obra consumada e finalizada. Logo, não existe uma batalha para alcançar algo.
Embora possamos usar o termo “batalha”, o contexto é diferente. Cremos que nossa luta não é pela vitória, mas dá vitória. Nossa luta é contra um inimigo já vencido, exposto e humilhado. Nesse sentido, não batalhamos para conquistar. Já estamos no espaço de conquista.
A Escritura e a obra de Cristo testificam disso quando mencionam a derrotada de Satanás e de seus demônios:
…e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz. (Colossenses 2:15)
Veja, Jesus triunfou sobre os “poderes e as autoridades”. Tendo em vista que Paulo usa tais expressões em sua carta aos efésios ao se referir a demônios (Efésios 6:12), não precisamos nos esforçar para provar que aqui em Colossenses é uma clara referência a esses mesmos seres.
Além disso, o que Paulo quis dizer com “despojar”? Em que sentido Jesus despojou principados e potestades? O termo despojar significa “desarmar”. Jesus desarmou o diabo e todos os demônios. E qual seria a arma do diabo? O contexto anterior nos responde:
Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz. (Colossenses 2:13-14)
Em outras palavras, a arma do diabo era a condenação por meio da Lei. Quando Jesus foi crucificado na cruz, retirou tal arma do diabo, nos justificando. Não há mais condenação! (Romanos 8:1)
A batalha espiritual do cristão é contra um inimigo desarmado e derrotado.
O autor de Hebreus também afirma que por meio da morte de Jesus, ele derrotou “aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo.” (Hebreus 2:14). A cruz desferiu um golpe certeiro e implacável contra o diabo. A versão ACF afirma que Jesus “aniquilou o que tinha o império da morte”. O nosso maior inimigo foi aniquilado.
Jesus zombou do diabo, o expos, o derrotou, o desarmou. Todos esses termos usados pela Escritura refletem a completa vitória de Cristo e a vergonhosa derrota de satanás.
Logo, qualquer ensinamento de batalha espiritual que não considera o inimigo derrotado, perde de vista a suficiência da cruz. É uma exaltação da capacidade do diabo, da força do homem e uma diminuição da obra de Cristo.
A batalha: uma luta que parte da conquista
Não começamos a caminhada de fé lutando, mas assentados. O famoso líder e escritor cristão, Watchman Nee, disse certa vez que “a vida cristã não começa com o faça, mas com o está feito!”
Em sua interpretação da carta de Efésios, Nee destaca três verbos usados pelo apóstolo Paulo e o significado que carregam:
- Efésios 1-3 – Sentar
Em Efésios 1:20-23, Paulo menciona que Cristo foi ressuscitado e está assentado a direita de Deus Pai, sobre todas as autoridades, poderes e domínios. Jesus, está “muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar.” (v.21) Sabemos que Paulo está também mencionando demônios nessa passagem, pois ele usa termos semelhantes em Efésios 6:12. Em outras palavras, Cristo está acima de toda e qualquer potestade. Todos os demônios estão debaixo dos seus pés.
Em Efésios 2:4-6, o apóstolo descreve a nossa ressureição juntamente com Cristo. A obra grandiosa de salvação, operada pela Graça, nos ressuscitou e nos colocar assentados com Cristo Jesus. Isso significa que estamos agora, espiritualmente, ao lado de Cristo, na mais alta posição. No capítulo 1, Paulo fala de Cristo acima de tudo. Agora, no capítulo 2, ele fala que nós estamos acima de tudo. Isso inclui, obviamente, todos os demônios e potestades.
Em outras palavras, começamos a vida cristã assentados com Cristo. Os demônios estão debaixo de nossos pés. O crente mais neófito, que tem apenas 1 segundo de conversão já tem autoridade sobre todo e qualquer demônio. Foi lhe dado gratuitamente. É assim que todos começamos.
- Efésios 4-5 – Andar
Nos capítulos 4 e 5, Paulo começa a tratar do andar Cristo. O termo “andar” é uma referência a comportamento, a maneira como nos comportamos nesse mundo.
Veja, não andamos para depois descansar. Descansamos para depois andar. Nossos comportamentos fluem do descanso.
- Efésios 6 – permanecer
Por último, o apóstolo menciona o “permanecer”.
Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. (Efésios 6:13)
Efésios 6:11-18 é muito utilizado para falar de batalha espiritual. Porém, veja como tal texto é tirado do contexto maior de efésios, para concluir que estamos em uma luta direta contra o diabo, com o objetivo de conquistarmos salvação, cura, bênçãos etc.
Veja o verso 12:
… pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. (Efésios 6:12)
Observe que a nossa luta não é para conquistar, mas para permanecer. Permanecer aonde? Na posição de descanso e obra consumada que já fomos inseridos (Efésios 2:4-6). Não lutamos para conquistar, mas a partir de todo o território conquistado. Colocamos a armadura para ficarmos firmes, não para conquistarmos algo que já não tenhamos (Efésios 6:13).
Efésios 6 e a batalha espiritual
Em Efésios 6, Paulo lista todas as “partes da armadura” para a batalha do crente. Uma interpretação extrema diz que o cristão deve, ao acordar pela manhã, vestir todas as partes dessa armadura, fazendo os gestos ao vestir. Outros defendem que cada aspecto da armadura é produzido pela consagração diária do crente, por suas orações e jejuns.
Essas interpretações extrapolam o que o texto diz, além de colocarem o foco no homem e não em Cristo.
Paulo afirma que a armadura é “de Deus”, ou seja, é forjada por Ele, não por nós. Paulo pede para seus leitores “vestirem” a armadura. Isso implica que não precisamos conquista-la, mas apenas vesti-la.
Além disso, seria muito bobo pensar que se trata de algo físico. Estamos falando de uma armadura espiritual, onde cada aspecto está centrado no Evangelho. Veja, por exemplo, o escudo da fé, que segundo Paulo, “podemos apagar todas as setas inflamadas do maligno” (v. 16). Isso implica que essas setas do diabo são o oposto da fé, são dúvidas e pensamentos de incredulidade. O foco não é comportamento, mas a fé. O foco não é a minha capacidade, mas o Evangelho de Cristo. O capacete da salvação é outro exemplo (v.17). Ele pressupõe que quem o usa está salvo. Isso significa que é o capacete da consciência da salvação. Por isso, é um capacete. Ele protege a mente de toda incerteza e dúvida.
Isso nos mostra que a batalha espiritual é uma batalha pela consciência. É uma batalha que acontece na mente. Isso fica mais evidente quando lemos sobre nos mantermos “firmes, cingindo-se com o cinto da verdade” (v.14). Pedro também menciona isso quando diz: “cingindo os lombos do vosso entendimento”. (1 Pedro 1:13 – ACF) Colocar o cinto da verdade é cingir nosso entendimento com a verdade.
Enfim, toda armadura aponta para o Evangelho. E toda a batalha espiritual é uma batalha pela consciência, que acontece na mente. Como já diria meu pastor Jose Carlos, “batalha espiritual não é lutar contra os demônios e seus anjos. Batalha espiritual é um posicionamento em Cristo.”
Por último gostaria de deixar um pequeno resumo das principais táticas do diabo, e a base bíblica:
- Nos fazer perder tempo com ele (Tiago 4:7)
- Batalhar diretamente contra ele (Lucas 10:17-20)
- Acusar os nossos pecados (Zacarias 3:1; Apocalipse 12:10)
- Nos encher de dúvidas (Gênesis 3:1-4; Mateus 4:6)
- Distanciar nossa mente do Evangelho (2 Coríntios 11:3)
Em resumo, a verdadeira batalha espiritual do cristão é uma luta pela consciência do Evangelho. Lutamos a partir da vitória. Já somos abençoados, curados, libertos, livres e santos. Devemos manter nossa fé firme nessas verdades. O diabo não se deu por vencido, por isso, tenta nos enganar, nos fazendo acreditar que ainda está no ringue. Na verdade, ele já caiu. A conquista e a vitoria já é nossa! Por isso, somos mais que vencedores em Cristo Jesus!
Muito bom!
Amém, meu irmão!
Boa tarde irmão Eliezer.
Uma dúvida?
Quando se fala do diabo, imagina-se um ser de espírito fora e contrário ao espírito de Deus?
Ou ele estava na nossa consciência de pecado na mente de Adão?
Espero ter compreendido minha pergunta.
Obrigado.
Graça e paz irmão!
O diabo é um ser pessoal. Na tentação do deserto (Mateus 4), vemos que ele fala, cita as Escrituras, tem vontade própria. A Bíblia dá características pessoais ao diabo.
Excelente!
Amém!
Glória a Deus!! Amei e aprendi sobre batalha espiritual convindo com você que jesus abençoe sempre irmão 🙏🙏