Jesus é a Chave Hermenêutica? A Lente das Escrituras

O que é Hermenêutica? Jesus é a nossa Hermenêutica?

É a “arte’ de interpretar e compreender as Escrituras. Através da Hermenêutica entendemos o significado dos textos Bíblicos. No sentido geral, através da hermenêutica nós “interpretamos textos”. Portanto, Hermenêutica não é somente ler um texto, mas interpretá-lo.

A questão é: Como interpretamos as Escrituras? Qual é a “chave” Hermenêutica para entendermos o textos Bíblicos? Existe a perspectiva que acredita que Jesus é a nossa chave hermenêutica para a compreensão das Escrituras, e essa perspectiva é extremamente criticada e contestada.

Colocar Jesus como a nossa chave hermenêutica é entender que Ele é o meio para compreendermos todos os textos Bíblicos. Os críticos dessa visão defendem que a “Bíblia interpreta a Bíblia”. Para eles, Jesus não pode ser colocado como o meio hermenêutico para entendermos as Escrituras pois a Bíblia é interpretada a partir dela mesma.

Nesse texto eu gostaria de contestar essas críticas e reforçar o entendimento de que somente Jesus pode ser a nossa chave hermenêutica. Se Jesus é suficiente para todas as áreas de nossas vidas, por que não é suficiente para a Hermenêutica?

Jesus é suficiente

“…todos os textos de toda a Bíblia mantêm uma relação discernível com Cristo e têm como principal objetivo testemunhar a Cristo. Cristo deve permanecer como a grande idéia de todo texto Biblico”

 Grame Goldsworthy

Colocar Jesus como a chave Hermenêutica é entender que a Bíblia é a revelação a respeito da segunda pessoa da Trindade (Jesus), e por isso devemos lê-la buscando encontrá-lo em cada texto. Ele é o centro e o tema central de toda a Escritura.

Aqueles que criticam esse entendimento não compreendem que estão atacando um princípio mais profundo e abrangente do que pensam: a suficiência de Cristo.

Quando anunciamos que Cristo não é a chave hermenêutica das Escrituras, mas que a Bíblia é a sua própria preposição e interpretação, estamos minando a suficiência de Jesus e o rebaixando a um mero personagem Bíblico, apenas mais um ator na narrativa das Escrituras. É claro que os críticos jamais se posicionarão em concordância com esse fato. No entanto, é a conclusão lógica que se segue a partir de seus pensamentos. Se Cristo não é a chave hermenêutica para a compreensão das Escrituras, a Bíblia é a sua própria suficiência. Se a Bíblia é suficiente em si mesma, então ela possui qualidades e partes da essência de Deus, e Cristo perde seu lugar do único que possui o caráter de Deus em si mesmo.

A religiosidade transforma a Bíblia em uma fonte de derivação e não em uma forma de proclamação da Vida de Deus. Cristo já havia alertado sobre esse mal quando disse aos fariseus que as Escrituras não possuíam a Vida eterna, mas anunciavam a Vida Eterna (João 5:39).

Quando partimos do princípio de que Cristo é suficiente entendemos que Ele é suficiente para a compreensão das Escrituras. Negar esse fato é negar a própria natureza da suficiência de Jesus. É claro que nenhum cristão sincero iria assumir esse risco.

A hermenêutica de Jesus

Um dos maiores erros dos críticos é acreditar que colocar Jesus como a chave hermenêutica é apenas ensinar que a Bíblia aponta para Jesus. Segundo muitos irmãos, nós defendemos que a Bíblia deve ser interpretada a partir de Cristo no sentido de tentar encontrar Cristo em cada versículo, e de que ela é a uma revelação de Jesus. Isso está correto, mas incompleto. O ponto de vista de que Jesus é a chave hermenêutica parte do princípio de que Jesus não é somente a revelação da Bíblia, mas o Revelador da Bíblia. Por esse motivo, eu acredito que a visão que coloca Jesus como a chave hermenêutica deveria ser chamada de “Hermenêutica de Jesus”.

Jesus é o mistério revelado nas Escrituras (Colossenses 1:26-27), e aquele que revela as Escrituras. Ou seja, Jesus não é apenas o autor-criador das Escrituras; Ele também é seu intérprete proeminente. A suficiência de Jesus proclama não somente que cada texto Bíblico aponta para Jesus, mas que Jesus anuncia de forma sublime e visível cada texto Bíblico. Por isso, devemos ler as Escrituras a partir dEle, justamente pelo fato de que somente Cristo pode interpretá-las corretamente.

Em Mateus 5:17, Jesus interpreta o sexto mandamento e diz: “mas eu digo a você…”. Ele fez o mesmo sobre o mandamento do adultério. Jesus estava afirmando efetivamente ser quem entendeu corretamente a lei e foi portanto, capaz de interpretá-la. Da mesma forma, em Lucas 4:16-21, Jesus abre em Isaías 61:1-2, mas não lê todo o versículo (2). Jesus cita até a parte que diz, “o ano aceitável do senhor”, e fecha o livro. Se analisarmos a citação de Isaías, veremos uma continuação: “e o dia da vingança do nosso Deus”. Jesus ocultou uma parte do versículo. Por que Jesus fez isso? Independente dos motivos, Ele compreendia que tal citação não fazia parte do momento em que estava vivendo.

Em Colossenses 1:17, Paulo diz “todas as coisas se unem em Cristo.” Todas as coisas se unem em Cristo significa que Ele é o princípio unificador e sustentador pessoal de toda a criação. Nasce dEle e encontram nEle seu vínculo completo e central. Essas definições certamente devem ser aplicadas a uma parte vital da criação, a Bíblia.

Os críticos da hermenêutica de Jesus dirão que a Bíblia é a sua própria intérprete porque os textos bíblicos foram escritos a partir da concepção que o autor possuía. Por isso, devemos analisar o texto bíblico a partir do que o autor queria dizer. Isso é completamente superficial.

O teólogo luterano Allan G. Padgett escreve a respeito disso:

“Vendo toda a Bíblia e tendo-a como uma unidade, estamos já indo além de qualquer coisa que poderia estar na mente e intenção de qualquer autor ou redator individual”

Cristo é a chave hermenêutica, a chave de interpretação Bíblica porque é a essência do ser de Deus, a expressão exata e completa da essência dEle, o maior intérprete das Escrituras, o único exegeta Bíblico sem histórico de erros.

Eliezer Oliveira
Eliezer Oliveira

Tenho 25 anos e sou diretor do Blog Vida Trocada, autor dos livros E Ele nos tornou Santos, Nada Além do Sangue (Livro Publicado) e Hiper Graça: O Que Realmente Defendemos (Livro Publicado). Também sou coautor do livro Interpretando a Escritura. Sou professor do curso Universidade da Graça, Vida na Graça e Teologia com Graça, e também atuo como Escritor Fantasma para alguns ministérios. Atualmente estou cursando Teologia (ESTÁCIO), sou casado com uma escritora maravilhosa, amante da leitura e de um bom café.

17 comentários

  1. Só uma observação rapida: em João 5:39, Jesus não diz que as Escrituras não têm vida eterna; Ele diz que os líderes julgavam que ela tinha a vida eterna. Ele não os repreende, apenas corri-os, que eles buscavam nelas (as Escrituras) a vida eterna e não queriam saber dEle, pois elas dão testemunho dEle. É sempre bom fazer uma “hermenêutica” correta do texto, para não criar enganos. Textos fora de contexto, cria pretexto. Ideia antiga, mas serve.

    • Meu irmão, com todo o respeito, mas qual parte dessa frase do texto você não entendeu: “Cristo já havia alertado sobre esse mal quando disse aos fariseus que as Escrituras não possuíam a Vida eterna, mas anunciavam a Vida Eterna” (João 5:39)?

      Jesus disse aos fariseus: Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito. (João 5:39)

      Podemos compreender o texto a partir de um silogismo simples e rapido:

      1. Os fariseus estudavam de forma diligente as Escrituras porque acreditavam que nelas havia vida eterna
      2. Jesus afirma, “e são as Escrituras que testemunham sobre mim”
      3. Partindo do escopo maior do Evangelho de João, onde Jesus é descrito como aquele que é a própria Vida Eterna, entendemos que em João 5:39 Jesus se coloca como a própria vida eterna.
      4. Logo, Jesus está afirmando que as Escrituras NÃO tem, mas que Ele é a Vida Eterna!

      Jesus não precisa dizer “as Escrituras não tem vida eterna” porque a própria frase pressupoê esse entendimento.

      A negação do entendimento dos fariseus assim como uma afirmação sobre seu próprio ser já esclarecem que Jesus é o ser da Vida Eterna, a qual, as Escrituras, são colocadas na categoria de Testemunha. Tudo isso, novamente, embasa o que escrevi.

      É incrivel que você venha aqui se posicionar como um “corretor de hermenêutica”: a) Sem ler o que escrevi corretamente; b) Me acusar do que, na verdade, foi você quem cometeu; c) Se enbananar em sua própria explicação.

      • Eliezer, não entendi a razão de vc ter ficado irritado com o comentário do Luiz. Vc fez a tua exposição e o Luiz apresentou algumas observações. Ninguém é dono da verdade, são apenas opiniões. Já que vc tem apenas 24 anos, um conselho: Menos arrogância.

        • Peço desculpas se foi esse o sentimento que lhe causou, mas posso afirmar com coração em paz que não escrevi com raiva. Às vezes, nós que somos do ministério apologético, somos muito “intrépidos”, colocando nossa cara a tapa, e defendendo o Evangelho – um chamado que é bíblico. Mas, eu entendo que às vezes essa defesa pode acabar gerando mal-entendidos quando nos expressamos de uma forma errada.

          Novamente, peço desculpas.

      • Eliezer, me tira uma dúvida. Tenho lido a respeito do assunto que vc escreveu e achei o teu texto bem interessante, porque vc coloca Jesus como a chave hermenêutica, mas vc valoriza o texto bíblico. O Caio Fabio, quando fala em Jesus como chave hermenêutica, ele fica em Jesus, chegando até mesmo a desprezar algumas partes da bíblia. Tô confuso.

        • Concordo com o Caio no princípio, mas discordo na aplicação do princípio. Ele está certo de que Jesus é a chave hermenêutica, mas errado em sua aplicação. Creio que a hermenêutica centrada em Jesus não nos leva a excluir partes da bíblia, mas a reinterpretá-la.

          • Estou contigo Eliezer no tocante da reinterpretação da Bíblia tendo Jesus como a chave hermenêutica.

    • Só outra observação: o fato de Jesus não dizer que as Escrituras não têm vida eterna, não significa que as Escrituras não digam explicitamente onde está a vida eterna. Ela o diz em muitos textos. Por todos: “E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. Escrevi estas coisas a vocês que creem no nome do Filho de Deus, para que saibam que têm a vida eterna.” (Jo 5: 11-13). Esta é a hermenêutica de João, em absoluta coerência com toda a Palavra de Deus.

  2. A chave hermenêutica não seria a Escatologia Consumada????
    Uma vez que ao ter essa compreensão dos fatos já ocorridos, tudo passa a ter mais clareza quando lemos e analisamos os históricos bíblicos.
    Todavia, parabenizo pela conclusão da sua pesquisa.
    Abraço.

    • Obrigado pelo seu comentário irmão! Acredito que toda Teologia se fundamenta na Cristologia, incluindo a Escatologia. Eu também creio em uma escatologia consumada, mas acredito que ela está ancorada na obra de Cristo na cruz. Por isso, Jesus é a chave hermenêutica das Escrituras (Jesus e sua Obra).

      • No ramo acadêmico não dá para dissociar Jesus dá bíblia como você falou! Porém é aplicação, o qual você falou que “não concorda”, que fez todo sentido pra mim. Isso me salvou, literalmente. Eu entendi através dás pregações do Caio, que Jesus a chave hermenêutica, é olhar para a vida e a interpretar a partir de Jesus como prática, no sentido de que: eu devo agir como os antigos? ou eu devo agir como Jesus ou a partir do que ele ensinou?. Jesus é absoluto, Davi uns dos mais famosos da Bíblia, não pode ser tomado como santo a não ser pôr Deus, ele dá margem para muitas interpretações, eu preciso de um absoluto, o qual hebreus fala, alguém que não viesse para ensinar o povo a falar ou ensinar palavras, más para dar significado a elas.

        • Me desculpa, mas o seu comentário é confuso. O que você quer dizer com “No ramo acadêmico não dá para dissociar Jesus dá bíblia como você falou”?

          Além disso, seu comentário parece presumir que sou contra Jesus como chave hermenêutica por discordar da maneira como o Caio Fábio a aplica. Mas, uma coisa não tem relação alguma com a outra. Defendi a hermenêutica cristocêntrica em todo o texto, e se você o leu, não faz sentido discordar de mim.

          Por último, esclareço aqui qual é a minha discordância em relação ao Caio. Na aplicação do princípio cristocêntrico, Caio coloca os evangelhos acima das epístolas. Em um sentido da revelação, não há problema entender que algumas partes das Escrituras lançam luz sobre outras. No entanto, minha discordância é justamente na escolha de Fabio quanto a isso. Coloco as epístolas a frente do Evangelho. Interpreto os evangelhos a partir das epístolas e não o inverso. Defendo isso porque as epístolas trazem a revelação da Nova Aliança, baseada na obra redentora de Jesus, enquanto os evangelhos retratam um período transitório entre a Velha e a Nova Aliança.

          Da mesma forma, ao contrário do Caio, não creio que Jesus como chave hermenêutica nos leve a excluir o AT, mas a interpretar até mesmo as partes que supostamente entram em conflito com o Novo.

          Por último, respondo a sua afirmação “Eu entendi através dás pregações do Caio, que Jesus a chave hermenêutica, é olhar para a vida e a interpretar a partir de Jesus como prática, no sentido de que: eu devo agir como os antigos? ou eu devo agir como Jesus ou a partir do que ele ensinou?”

          Essa visão pratica de Jesus se relaciona mais com o legalismo do que com o Evangelho. O Evangelho não pergunta “o que Jesus faria?”, o Evangelho pergunta “o que Jesus fez por mim e em mim?” Por isso, as epístolas são o filtro.

          Por último, não creio que Jesus é uma figura a ser “imitada”. O Evangelho não foca na imitação de Jesus, mas na habitação dEle em mim.

  3. ” no âmbito acadêmico”, eu quero dizer que Jesus a chave hermenêutica é um tema proposto, o qual fica a cargo dos acadêmicos discutir o tema e chegar a alguma conclusão.
    Gosto do tema, e não estou aqui para falar quem tá certo ou errado, não é minha intenção.
    Eu li seu texto e achei super legal. Só não concordei quando vc falou que não concorda com a aplicação. Que ao meu ver a aplicação é que dá todo o sentido, de Jesus ser a chave hermenêutica. Essa questão de Jesus ser a chave hermenêutica é muito simples más requer uma reflexão profunda, sobre questões que só a prática, me mostraria a verdade a qual eu me submeto ao ensino de Jesus.
    E talvez eu esteja errado, más o que eu entendi através do seu artigo é que, “o princípio é que Jesus é o maís importante da Bíblia” .

    • Irmão, você está confundido as coisas. 1) Eu não rejeito a aplicação do princípio de Jesus como chave hermenêutica, eu rejeito a aplicação que o Caio faz – isso é diferente. 2) Quando me refiro a aplicação, não estou falando de algo “prático” no sentido de “o que Jesus faria?”, estou falando na aplicação no texto bíblico – em como devemos aplicar a hermenêutica cristocêntrica na leitura bíblica.

  4. A tanta controvérsias entre mestres da bíblia cada um quer saber mais que o outro porque tudo isso muito leitores se não tiver firme na palavra fica no meio do caminho.que Deus continue abençoando a cada um lhes concedendo sabedoria do alto.que Deus nos ajude a ser melhores intérprete da sua palavra 🙏

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