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O cristão tem duas vontades? – União com Cristo
Muitos irmãos acordam pela manhã pensando: “Hoje é mais um dia para lutar contra os desejos do meu eu”. Eles acreditam que todo cristão possui “duas vontades”, a vontade da carne, e a vontade do espírito. Essas vontades estão inseridas dentro de todo salvo, criando uma guerra interna diária e constante.
Essa perspectiva nasce da teologia confusa a respeito da Identidade dos Cristãos. Segundo esse entendimento, dentro do cristão existe duas naturezas, dois “eus” que possuem duas vontades em completa oposição. Uma é a Nova Natureza, e a outra é a velha natureza, o “velho homem”. Como já aprendemos aqui no Blog, o velho homem foi definitivamente morto na cruz. Cristo não morreu sozinho, nós morremos com Ele no ato de co-crucificação (Romanos 6:4-6). Quando Ele ressuscitou, não foi o velho homem que ressuscitou com Ele, mas o novo homem, a Nova Natureza (Efésios 2:5-6).
“Mas então por que as vezes temos duas vontades? Por que sentimos dois desejos diferentes (de fazer o que é correto, e de fazer o que não é)? Isso não indica que temos duas naturezas?”
Aqui está o ponto central: só existe uma vontade dentro de você. Isto é, no seu eu, no seu espírito (a sede da sua ligação e identidade com Cristo) só existe uma vontade. Essa vontade está em concordância com a essência e o caráter de Deus.
Nesse texto, usarei duas bases para contestar a ideia de que o cristão tem duas vontades: 1) A Nova Natureza do salvo; 2) A União do cristão com Cristo.
O cristão e as vontades
A maioria dos cristãos Evangélicos defendem que a nossa vontade natural é propensa para praticar o pecado.
Ao contrário dos Evangélicos e Protestantes no geral, a Igreja Ortodoxa (Oriental) defende que a nossa vontade natural é realmente feita por Deus, com configurações de fábrica para ser orientada e está propensa a fazer Sua vontade. Somos feitos à Sua imagem e restaurados à Sua imagem em Cristo. Esse é o verdadeiro eu real.
Um dos maiores teólogos da Igreja Ortodoxa, que esteve presente no terceiro concílio de Constantinopla, conhecido como Maximus, o Confessor, explicou a diferença entre vontade gnômica e vontade natural.
A vontade natural é toda vontade humana normal, saudável e cotidiana. Ou seja, essa vontade inclui desde levar o cachorro para passear, até ajudar uma senhora a atravessar a rua. Se trata de algo bom, e normal. Todavia, a vontade gnômica (enraizada na palavra grega gnosis: “conhecimento”) é a escolha deliberativa de, pensar e racionalizar, escolhendo o mal, o pecado, o oposto da essência de Deus.
A vontade gnômica demonstra que podemos escolher agir contra Deus. Mas esta escolha é realmente contrária à nossa natureza, é contrária à nossa vontade natural dada por Deus. A vontade gnômica não é uma coisa em si mesma, mas uma distorção da vontade natural.
Máximo defendeu que gnomo não se refere tanto a uma vontade que possuímos, mas a uma inclinação da vontade. Era a tendência de um homem fazer o mal com sua vontade natural. Em vez de realmente “possuir” uma vontade má, a força e a boa vontade do homem são sequestradas por um movimento maligno para operar de uma forma maligna.
Trazendo isso para uma perspectiva mais Vida Trocada, todo salvo possui apenas uma vontade: aquela que deseja e opera em concordância com o caráter de Deus (Vontade natural). Essa vontade é natural porque faz parte do que a Nova Criatura é; é natural a Nova Criatura. Ou seja, o cristão não tem duas vontades, mas apenas uma que está ligada à sua Identidade em Cristo.
No entanto, existe essa vontade que não é uma coisa em si, e que se trata de um conjunto de raciocínios e pensamentos distorcidos sobre a realidade da Nova Criatura. A Bíblia denomina esse conjunto de “carne”. Por isso, Paulo orienta seus leitores a “renovarem a mente” (Romanos 12:2), e chama seus leitores ao “arrependimento” (2 Coríntios 7:10) (do gr. Metanoia – “mudança de mente”). A carne não é o que o crente é, a carne é algo externo e oposto ao que o crente é em seu espírito.
Unido a Cristo
Como aprendemos no início do texto, estamos ligados a Cristo, unidos a Ele em espírito. Essa verdade vai de encontro a perspectiva de que o cristão tem duas vontades simultaneamente opostas.
O nosso espírito está unido ao espírito de Deus de tal forma, que compartilhamos do caráter e da essência de Deus, por isso não podemos ter duas vontades distintas. Se estamos ligados a Ele, tudo que temos e possuímos no cerne do nosso ser, faz parte do Ser e da essência de Deus.
Aqui entramos em um debate um tanto quanto polêmico. Muitos ao lerem isso, podem contestar dizendo: “Isso quer dizer que somos divinos? Se compartilhamos da essência de Cristo, então nos tornamos Ele? Ele engole a nossa existência?”.
Para todas essas questões a resposta é: Não! O teólogo Norman Grubb era perito em demonstrar que a união com Cristo não desfaz a individualidade das pessoas que estão unidas.
O gráfico abaixo foi criado para esclarecer isso:
Podemos destacar alguns pontos da Imagem:
- “Participantes da natureza divina” – 2 Pedro 1:4. Segundo Pedro, fomos feitos “participantes da natureza divina”. Isto não significa que somos divinos, mas que compartilhamos daquilo que é Divino, temos ao nosso dispor todos os frutos, qualidades e vontades classificadas como divinas.
- Estamos Unidos a Cristo no espírito: Nossa ligação com Cristo é no espírito. Paulo afirma que “aquele que se une ao Senhor é um só espírito” (1 Coríntios 6:17). Perceba, como demonstrado na Imagem, que você não se tornou Cristo, e nem Cristo se tornou você, mas isso não significa que não nos tornamos um com Ele. Essa união implica que todos os nossos desejos, vontades e ser estão alinhados com os desejos, vontades e ser de Cristo, ou seja, são duas pessoas, mas que possuem igualdade de pensar, ser e agir como uma pessoa só.
Nossas vontades, desejos e ser estão alinhados com Cristo, mas isso não implica que sempre fazemos o que queremos, ou que sempre agimos com base nessa união. Tendo isso em mente, fica fácil entender a afirmação de Paulo: “eu faço o que não quero fazer, e o que eu não quero fazer, eu faço” (Romanos 7:15), e “segundo o homem interior tenho prazer na lei de Deus” (v.22). Ou seja, no espírito, Paulo afirma que tem prazer no que é bom. Da mesma forma, escrevendo aos Gálatas Paulo afirma que “os desejos da carne se opõem aos desejos do Espírito … a fim de que não consigam fazer o que querem” (Gálatas 5:17).
O que os cristãos querem fazer, isto é, a vontade deles, está alinhada com o caráter de Deus através da união com Cristo. No entanto, como demonstrado nas Escrituras, é totalmente possível que um cristão faça algo que não quer, que está em desacordo com a sua Real Identidade em Cristo. Isso acontece quando não meditamos nas verdades de quem somos a partir da Obra de Cristo e de nossa união com Ele. O cristão não possui duas vontades. mas apenas uma natureza e uma vontade, conhecer essas verdades é crucial para viver corretamente.