Herman Bavinck e o argumento da Santificação Redentiva

Recentemente eu estava lendo a Dogmatics Reformed volume 4, do teólogo reformado holandês Herman Bavinck, para produzir uma série de textos a respeito da santificação. Bavinck é um dos teólogos que aprecio muito. Ele tem uma importância muito grande nessa série de textos a respeito da santificação.

Em um dos capítulos desse volume da Dogmatics Reformed, Herman Bavinck trabalha o seu pensamento a respeito da santificação e justificação. Como eu, Bavinck acredita que tanto a justificação quanto a santificação são adquiridas mediante o sacrifício de Cristo. No início do capítulo a respeito da santificação ele deixa claro como será o desenvolvimento de seu pensamento:

“Desde a redenção que Deus concede e realiza em Cristo é
destinado a realizar a libertação completa do pecado e de todas as suas
conseqüências, inclui santificação e glorificação desde o próprio
início, juntamente com a justificação.”

Quando li isso percebi qual seria a conclusão de Bavinck, e pensando nisso, construí um argumento para explanar sua perspectiva. Eu chamo esse argumento de santificação redentiva:

  1. O pecado de Adão trouxe a completa separação do homem e Deus, e nessa separação tornou o homem um pecador degenerado e completamente pecaminoso. 

2. As consequências desse pecado, como vimos, é a total falta de justiça e santidade. O homem necessita de justiça e santidade. (Romanos 3:10-23)

3. Entendemos que é na justificação que o homem recebe justiça, e é na santificação que ele recebe santidade.

4. Cristo, em sua obra na Cruz, é o meio pelo qual Deus traz a libertação do homem de todas as consequências do pecado de Adão, incluindo a falta de santidade e justiça. (Romanos 5:1,10-19)

5. Desse modo, é somente através da Cruz que o homem é justificado e santificado. Se a falta de santidade e justiça são resultados da obra de Adão, consequentemente o meio de adquirir santidade e justiça só pode ser através da obra de Cristo na Cruz. 

Quando levamos esse argumento ao fim conclusivo compreendemos que não há qualquer “papel” humano quando se trata da santificação assim como na justificação. Se a falta de ambos é produto do pecado de Adão, e ambos são liberados no sacrifício de Jesus, então são adquiridos da mesma forma: a simples fé no sacrifício de Jesus (1 Coríntios 6:11). Essa conclusão é inegável quando concordamos com cada premissa apresentada nesse texto.

A religiosidade e o legalismo tendem a distinguir de inúmeras formas a justificação da santificação. A diferenciação que constroem é em número, gênero e grau. Isto a tal ponto que a santificação é separada completamente não somente da justificação, mas também da obra redentiva de Cristo. Dizem que a santificação é um trabalho árduo e completamente diferente da justificação. A santificação é um trabalho que realizamos através da “ajuda do Espírito Santo”. Santificação é traduzida como obras humanas para ser mais “puro e santo”. A justificação, ao contrário, é o ato de Deus através da Cruz perdoar os pecados do homem e imputar a ele a justiça de Cristo. A religião torna a santificação, uma antítese da justificação. Herman Bavinck discorda desse pensamento. Ele diz:

O sofrimento e morte de Cristo não apenas alcançaram a justiça na
base da qual os crentes podem ser absolvidos por Deus; ele também garantiu a santidade pela qual ele pode consagrá-los a Deus e purificá-los de as manchas do pecado (João 17:19). Sua obediência ao ponto da morte foi visando a redenção em todo o seu escopo (ἀπολυτρωσις, apolytrōsis), não somente como redenção do poder legal do pecado (Rm 3:24; Ef 1: 7; Col. 1:14), mas também como libertação de seu domínio moral (Rom. 8:23; 1 Cor. 1:30; Ef. 1:14; 4:30). Para esse fim, Cristo se entrega a eles, não apenas objetivamente na redenção, mas também se comunica subjetivamente na santificação e une-se a eles de uma maneira espiritual e mística maneira.

O erro daqueles que pensam que a santificação é completamente distinta da justificação é tirar Cristo do centro da santidade. Cristo, em sua obra, nos redimiu de todas as consequências do pecado de Adão, tanto da falta de justiça (nos proporcionando justificação), quanto da falta de santidade (nos proporcionando santificação).  O Cristo que recebemos é completo, e Sua plenitude é tudo o que necessitamos para tudo o que corresponde à vida e piedade (2 Pedro 1:3).

Referências Bibliográficas:

— Herman Bavinck Reformed Dogmatics – Volume 4 – Holy Spirit, Church, and New Creation, 319;

— Ibid, 344.

Eliezer Oliveira
Eliezer Oliveira

Tenho 25 anos e sou diretor do Blog Vida Trocada, autor dos livros E Ele nos tornou Santos, Nada Além do Sangue (Livro Publicado) e Hiper Graça: O Que Realmente Defendemos (Livro Publicado). Também sou coautor do livro Interpretando a Escritura. Sou professor do curso Universidade da Graça, Vida na Graça e Teologia com Graça, e também atuo como Escritor Fantasma para alguns ministérios. Atualmente estou cursando Teologia (ESTÁCIO), sou casado com uma escritora maravilhosa, amante da leitura e de um bom café.

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