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G.C Berkouwer: Santificação não é uma “Segunda Bênção”
No texto anterior desta série, estudamos um pouco da perspectiva do Teólogo reformado holandês Herman Bavinck. Nesse texto iremos ver a perspectiva de outro teólogo holandês da mesma linhagem teológica: G.C Berkouwer. No próximo texto analisamos a perspectiva do Dr. David G. Peterson sobre santificação progressiva.
Justificação, segundo a crença majoritária, é o ato de Deus perdoar os pecados do pecador e salvá-lo. Santificação, em contrapartida, é o processo que torna esse pecador semelhante a Cristo, ou seja, cada vez “mais Santo”. É óbvio que se você acompanha o blog Vida Trocada, sabe que constantemente criticamos esses conceitos como definições errôneas ou incompletas sobre o Evangelho. No entanto isso não vem ao caso neste texto. Acontece que esses dois conceitos foram fontes de disputas teológicas durante a história da Igreja. O catolicismo romano defendeu que a santificação vem antes da justificação (devemos nos tornar cada vez mais santos e assim recebemos a graça da salvação). Em oposição ao catolicismo, os reformadores defenderam que a justificação vem antes da santificação e que ambos são totalmente distintos. A reforma ajustou um erro: Mostrou que a salvação não vem por obras, ela é de Graça. No entanto, criou outro: separou totalmente a santificação da justificação.
Nesse panorama, a justificação é o “primeiro passo” da vida cristã, e a santificação é o segundo. Ou seja, para entrarmos na santificação devemos ir “além da justificação”. A santificação passa a ser uma “segunda bênção”, acessada por meio de muito trabalho e esforço. A justificação é algo fácil, recebida pela simples fé. A santificação é o árduo trabalho realizado por esforços diários e constantes.
Percebendo esse equívoco, Berkouwer proclamou:
“A santidade nunca é uma “segunda bênção” colocada ao lado da bênção da justificação. . . . Nossa conclusão é realizada somente em Cristo (Col. 2.10) “porque, por uma oferta, ele aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10.14). A exortação que chega à Igreja é que ela deve viver com fé a partir dessa plenitude; não que ele precise trabalhar para uma segunda bênção, mas que se alimente da primeira bênção, o perdão dos pecados . A guerra da Igreja, de acordo com o testemunho bíblico, brota da exigência de viver realmente desse primeiro testemunho.” (1)
Para Berkouwer a santificação (o processo de mudança dos nossos comportamentos) não é o processo de irmos além da justificação, mas de vivenciarmos e mergulharmos em tudo o que recebemos na justificação. Ele destaca que, “o coração da santificação é a vida que se alimenta da justificação”(3), e, “a santificação está continuamente enraizada na justificação”(4). Berkouwer é relutante em afirmar que a santificação é um “processo”, pois para ele essa noção se provou destrutiva para a Igreja ao tornar a santificação um processo de esforço próprio.
Minha síntese
Acredito que Bertkouwer está muito próximo da verdade. Em um próximo texto iremos discutir a relação do termo santificação e o crescimento cristão. O amadurecimento cristão é definido nas escrituras como santificação? Santificação é o processo de ser mais santo a cada dia? São apenas essas questões que me separam um pouco de Berkouwer. No entanto, em sua análise sobre a separação que a igreja criou entre justificação e santificação percebemos uma completa verdade: nos tornamos mais maduros, e nossos comportamentos se tornam mais corretos não quando vamos além da justificação e nos esforçamos muito em nossa justiça própria, mas quando vivenciamos tudo o que Cristo pagou por nós, quando mergulhamos em nossa justificação.
Pedro, em sua segunda carta, ao alertar seus leitores sobre o amadurecimento, o desenvolvimento da piedade e a prática das obras corretas, destaca que aquele que não possui essas coisas, “se esqueceu da purificação dos seus antigos pecados” (2 Pedro 1:5-9). Para Pedro, a falta de amadurecimento cristão e prática da piedade não era o resultado de não irmos “além da justificação”, ou seja, de “se esforçar mais”, mas de não vivenciar as realidades já recebidas da justificação, da obra consumada de Cristo.
“A prática da santidade não é um passo além da justificação, mas a prática contínua de visitar, lembrar e de descansar nas realidades da justificação, é lembrar e descansar em tudo o que já recebemos…” (E Ele nos tornou Santos – Santificação, a antítese da salvação)
Referências:
(1) GC Berkouwer, Faith and Sanctification (trad. J. Vriend; Grand Rapids: Eerdmans, 1952), p. 64
(2) Ibid., p. 93
(3) Ibid., p. 100
Muito boooom!!!