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Dízimo na Nova Aliança? – Entendendo o Dízimo a partir da Cruz
O debate geral
A questão do dízimo é uma das maiores problemáticas no meio cristão. Além de ser divisivo, o dízimo é um ensino controverso – gerando calúnias, críticas e ofensas variadas. Os lados do debate se dividem naqueles que aceitam o dízimo como prática Neotestamentária e aqueles que negam essa prática nas atividades do Novo Pacto.
Como todo tema problemático e divisivo, o dízimo traz consigo inúmeras interpretações erradas. No lado da aceitação, muitos dos proponentes do dízimo se baseiam em textos como Malaquias 3:10 e em conceitos do Antigo pacto sobre “roubar a Deus”, ou “receber maldições” caso o dízimo não seja obedecido. Do outro lado, aqueles que advogam estarem em uma “Nova Aliança”, acreditam que qualquer prática e ação de dízimo seria um “ultraje”, um ato que envergonha a obra de Cristo. Esses são dois exemplos de conclusões exageradas sobre o dízimo e sua relação com os pactos.
Essa divisão extrema de opiniões não nos ajuda a fornecer uma posição sólida, coerente e bíblica sobre o dízimo.
Além do meio cristão em geral, existe um embate sobre o dízimo na perspectiva daqueles que já aderiram a mensagem da Graça.
O debate no Evangelho da Graça sobre o Dízimo e a Nova Aliança
Obs: A citação de pastores, líderes e escritores abaixo não é com o intuito de causar polêmica ou debate, mas expor as diferentes opiniões entre líderes na Graça sobre o mesmo assunto.
Aqueles que aderem a mensagem da Graça, ao “Evangelho da Graça” acreditam em verdades como: 1) A gratuidade da salvação; 2) A Nova Aliança estabelecida pela obra de Cristo; 3) O perdão total dado em Cristo; 4) A nova identidade do crente, assim como sua herança espiritual; 5) A gratuidade das demais bênçãos – recebidas por fé; 6) O foco na obra de Cristo e na identidade do crente ao invés do fazer e de práticas cristãs.
Os defensores do Evangelho da Graça – que receberam a caricatura de “Hiper Graça” – não estão totalmente unidos na questão do dízimo. A divisão acontece entre aqueles que não aceitam o dízimo como prática da Nova Aliança e aqueles que conseguem conciliar a prática do dízimo e o viver na Nova Aliança. O pastor Aluísio Silva, pastor da Graça no Brasil, defende:
Dez por cento de tudo o que nos vem às mãos deve ser entregue ao Senhor, uma vez que o dízimo é santo, ou seja, separado exclusivamente para Deus.1
O pastor Mauricio Fragale, pastor sênior na Nova Igreja, em uma pregação local, afirma:
… algumas igrejas dizem que “esse negócio de dízimo é coisa da velha aliança, e eu sou da Nova Aliança”. O dízimo é anterior à Lei, Abraão, 430 anos antes de Deus dar a Lei a Moisés, deu o dízimo a Melquisedeque…2
Joseph Prince, um dos maiores líderes da Graça do mundo, se pronuncia sobre os pregadores da Graça que são contra o dízimo da seguinte forma:
Então, outra coisa sobre o corpo de Cristo, e esses mestres da graça, cuidado com esses pregadores… Não há autoridade sobre eles e eles falam por sua própria autoridade. E você pode ver que Deus não sanciona o ministério deles, não vai a lugar nenhum. E eles vão te dizer que você não precisa dar o dízimo. Muitos deles, são muitos, infelizmente, até professores da graça vão dizer que não tem que dar o dízimo.3
Prince está correto em seu comentário de que “muitos professores da Graça” são contra o dízimo como prática da Nova Aliança. Andrew Farley, em seu famoso livro, “O Evangelho Nú”, escreve sobre o dízimo da seguinte forma:
Além da referência histórica a respeito de Abraão por um sacerdote estrangeiro, Melquisedeque, a quem ele pagou 10% dos despojos de guerra, não há nenhuma outra menção do termo dízimo nas epístolas bíblicas.4
Victor Azevedo, pastor brasileiro, também expõe críticas sobre o dízimo como prática “obrigatória” da Nova Aliança:
Em Gênesis 14, Abraão dá o dízimo de tudo; em Gênesis 17, Abraão circuncida; e as duas coisas foram feitas antes da Lei. Então, o pensamento de que devemos continuar devolvendo o dízimo mesmo não vivendo mais sob a Lei, porque ele veio antes dela, só seria fundamentado se continuássemos também a praticar a circuncisão, você não acha? Mas, como sabemos, não é isso que acontece.5
Zach Maldonado, outro proponente da Graça, expõe a mesma posição:
Uma nova campanha de construção ou doação de fim de ano ou apenas culpa semanal. Dê, dê, dê. E sim, é melhor ser pelo menos “dez por cento” porque a Bíblia diz, certo? Errado. No Antigo Testamento, os israelitas davam um dízimo de cerca de 20 por cento, não apenas dez por cento. E nunca foi dinheiro. Eram sementes, alimentos e rebanhos dados aos sacerdotes para sustentar seu trabalho no templo. O dízimo é um princípio da Antiga Aliança que servia para sustentar os sacerdotes e levitas. Não é um princípio da nova aliança.6
Essas variadas e diferentes opiniões dentro do círculo da Graça tendem a causar divisões. O dízimo é tão controverso em nosso meio que costuma ser usado como “parâmetro” de posição gracista. De ambos os lados, existe a concepção de que o outro lado não está 100% na Graça por “não aceitar o dízimo” ou por aceitá-lo como prática do Novo Pacto.
Além disso, como a opinião de Prince exposta, muitos da Graça tendem a desprezar seus irmãos que compartilham diferenças em relação a esse tema – tendendo a duvidar de sua fé na Graça.
Aqui reside um grande problema: colocar o dízimo como ensino primordial e essencial no Evangelho. Logo, a não adesão ou a adesão podem implicar em um “cair da Graça”. A problemática se instaura no fato de que o dízimo não pode ser usado como parâmetro para saber quem defende o Evangelho da Graça ou quem não defende. O dízimo não é um tema primário, mas periférico.
Se fosse primário e primordial, por que haveria tantas discordâncias no nosso meio? O próprio fato de haver tantas separações, pressupõe que o dízimo não é primordial, visto que nos temas primordiais temos total concordância e união.
Dízimo na Nova Aliança: Um olhar diferente
Com esse texto, não pretendo expor em detalhes a minha posição sobre o dízimo, ou trazer uma resposta àqueles de quem discordo. Meu objetivo, além de chamar a sua atenção para os princípios do respeito e da compreensão – em relação as diferenças em nosso meio – também é expor uma visão mais “equilibrada” sobre o dízimo na Nova Aliança.
A visão equilibrada possui certos pressupostos básicos, pois parte de uma compreensão da Nova Aliança como parâmetro de nossos atos e práticas. Por vezes, nossas discussões a respeito das práticas cristãs se fecham na questão, “isso permaneceu ou não?” Em outras palavras, discutimos se uma prática Veterotestamentária (Antiga Aliança), ainda permanece na Nova Aliança. Parece que as únicas alternativas são: 1) essa prática se restringe à Antiga Aliança; 2) essa prática permanece na Nova Aliança. Todavia, quero trazer uma alternativa diferente: essa prática permanece sob a Nova Aliança, mas com formatos e moldes diferentes – restringidas e corrigidas pela cruz.
Portanto, a questão não é: “existe jejum na Nova Aliança?” ou “Existe oração na Nova Aliança?”, ou o dízimo etc. A questão é: “de que forma o evento da cruz afetou tal prática e transformou o ato?”
Diante da grandeza e suficiência da redenção de Cristo, precisamos estabelecer algumas verdades:
- O dízimo, como “10% por cento” não deve ser dado a Deus para fins de retorno financeiro e espiritual, justamente porque em Cristo já recebemos “todas as coisas” (Efésios 1:3; 2 Pedro 1:4; Romanos 8:32: Colossenses 2:10; João 1:16)
- Em Cristo, a provisão, prosperidade e sustento está alicerçado no próprio caráter de Deus como Pai doador (Mateus 6:25-34)
- Por causa da obra redentora de Jesus, o dízimo não é um parâmetro de espiritualidade ou da falta dela, visto que na Nova Aliança o Evangelho não nos faz introspectivos, mas extrospectivos (olhando para fora de si, para Cristo) (2 Coríntios 3:18; Hebreus 12:2; 1 João 4:17)
- Assim, não dar o dízimo não é “roubar a Deus” pois Deus é o dono de todas as coisas (Salmo 50:10-12; Ageu 2:8; Tiago 1:17). E não pode nos trazer maldições, porque Cristo recebeu a maldição da Lei em nosso lugar (Gálatas 3:13)
Assim, a Nova Aliança é o parâmetro para reformularmos o ato do dízimo e a contribuição cristã.
Sob o Antigo Convênio, o dízimo era necessário para o sustento dos ministros do Antigo Convênio. Os israelitas foram obrigados a dar 10 por cento. Na Antiga Aliança o dízimo era algo que ajudava e auxiliava os ministros. O detalhe é que as bênçãos que os Israelitas recebiam eram bênçãos limitadas.
Agora, na Nova Aliança recebemos bênçãos ilimitadas! Estamos sob um pacto superior. A questão é: Se na Antiga e Velha Aliança os hebreus davam 10 por cento de suas bênçãos, quanto mais hoje em uma superior e maior aliança? Não estou me referindo especificamente ao dinheiro.
A Igreja de Atos doava generosamente tudo uns aos outros, repartiam bens e casas:
Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. (Atos 2:44,45)
O escritor Michael Morrison comenta:
“A velha aliança nos deu condenação; a nova aliança nos dá justificação e paz com Deus. Quanto mais devemos estar dispostos a dar livre e generosamente para que a obra de Deus possa ser feita no mundo –proclamar o evangelho, declarar o ministério da nova aliança que nos dá a verdadeira vida e dar essa mensagem de vida aos outros?”7
O pastor Herso Meus destaca que se o dízimo é uma prática da Antiga Aliança – com suas bênçãos limitadas – imagine como deve ser a Nova Aliança, onde as bênçãos recebidas são ilimitadas e incondicionais? Isto é, às vezes estamos tão preocupados com a manutenção ou a rejeição do dízimo no Novo Pacto que esquecemos da extensão das bênçãos e da gratidão.
Logo, devemos dar o dízimo na Nova Aliança? Eu concordo com o Dr. Paul Ellis que o termo “deve” pressupõe uma norma restritiva exigida aos cristãos.8 Sob a Nova Aliança, o comando para doar não parte de um “dever” – no sentido Mosaico de deveres – mas da nova natureza do crente. Em outras palavras, agora que estamos em Cristo, que recebemos todas as coisas espirituais, temos o poder de “doar”, e somos chamados a tal feito. Nossa doação é uma ação que parte da nossa identidade em Cristo – somos doadores por natureza.
Outro fato crucial é que o dízimo, assim como as demais ofertas, são expressões de gratidão à igreja local e o desejo sincero de que o Evangelho cresça e seja propagado para mais pessoas.
O dízimo, nesses moldes, não é enaltecido, mas devidamente ajustado. De que forma? Simples, o dízimo não é mais o ápice da oferta e da doação cristã, mas um princípio inicial – como uma régua de “parâmetro”. É uma base inicial para começar as doações.
Acredito que o dízimo é um bom lugar para começarmos a oferta. O dízimo é um bom lugar para começar a doar porque é consistente e incentiva a responsabilidade pessoal e a doação proporcional.
Por ser uma quantia específica, é uma base para aqueles que querem ajudar na Igreja, mas não sabem quanto dar. Neste caso, a pessoa que está ofertando está ofertando com um ato de gratidão e desejando que o ministério em que está cresça ainda mais.
Aqui podemos trabalhar brevemente o dízimo de Abraão em Gênesis 14. Tal ato ocorreu antes da Antiga Aliança. Porém, muitos tendem a responder a isso das seguintes formas: 1) Abraão deu o dízimo, mas também praticou a circuncisão – que não existe na Nova Aliança; 2) O texto de Gênesis 14 não nos ordena ao dízimo, apenas o descreve; 3) Abraão dizimou apenas uma vez.
Essas contrarrespostas perdem de vista o fato de que o dízimo de Abraão não partiu de princípios redigidos de uma Lei, mas da gratidão e fé. Do mesmo modo, o dízimo de Abraão é citado em Hebreus 7, uma carta doutrinária – e não apenas descritiva. Não vemos a circuncisão sendo usada na Escritura Neotestamentária como um ato a ser recomendado. E mesmo que Abraão tenha dizimado apenas uma vez, o seu ato foi suficiente para que Moisés relatasse em Gênesis 14 e o autor de Hebreus descrevesse, doutrinariamente, em Hebreus 7.
Muitos podem contra-argumentar que em Hebreus 7 o foco não é o dízimo, mas a mudança de sacerdócio – Levítico e Melquisedeque. É claro que o texto de Hebreus 7 foi escrito para mostrar a superioridade da Nova Aliança sob a Antiga. No entanto, o dízimo é usado e descrito pelo autor de Hebreus como um exemplo dessa superioridade. Ou seja, esse texto nos fornece ricos detalhes do dízimo na Nova Aliança, que com certeza é superior ao dízimo levítico.
Não concordo com a rejeição de Hebreus 7 como importante à questão do dízimo porque sua ênfase principal é a dos sacerdócios de Melquisedeque e Levítico. Nesse caso, por envolver sacerdócios, o dízimo é descrito e focado na passagem. Porém, não como uma “nova lei” ou regulamento.
O dízimo de Abraão se encaixa em tudo o que venho descrevendo até aqui:
- Abraão deu o dízimo depois de ser abençoado por Melquisedeque e não para ser (Gênesis 14:19-20)
- Abraão deu o dízimo depois da vitória e não antes (Gênesis 14:14-16)
- Abraão deu o dízimo como ato de gratidão e não para receber algo (Gênesis 14:20)
Assim, o dízimo de Abraão é uma expressão de gratidão que prefigura a nossa gratidão na Nova Aliança. Como Abraão, não dizimamos para receber algo, mas a partir de tudo o que temos. Não fazemos para a vitória, mas da vitória. Nosso dízimo e nossa oferta é uma expressão da nossa nova natureza, que foi recriada em Cristo e expressa gratidão por sua obra salvífica.
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Notas de Rodapé
1.https://www.igrejavideira.com.br/o-que-a-biblia-ensina-sobre-o-dizimo/
2. https://youtu.be/1jVjwUvfnpM
3. https://sermons.love/joseph-prince/5772-joseph-prince-the-truth-about-tithing-under-grace.html
4. Andrew Farley, Evangelho Nu, pág. 68
5. Jesus sem Mais, pág. 114
6. https://zachmaldonado.org/blog/2022/06/21/do-we-have-to-give-tithe-10-of-our-money
7. https://archive.gci.org/articles/is-tithing-required-in-the-newcovenant/
NOTA VT: As ideias defendidas nesse artigo são de responsabilidade do autor e não representam a opinião de todos os escritores VT.
Amo o seu trabalho, Eliezer
Muito obrigado pelo carinho irmão!
Abordagem indiscutivelmente perfeita irmão! Glória a Deus pela revelação concedida ao irmão. Fique firme nesse propósito, pq vc está sendo um canal de bençãos e crescimento na graça e conhecimento de muitos irmãos em Cristo, inclusive eu. Deu te abençoe grandemente.
Paz meu irmão! Muito obrigado! Obrigado pelo carinho! Fico muito feliz em poder contribuir com você irmão! Desejo e confesso um crescimento cada vez maior em sua vida, na Graça de Deus! Amém!
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