Hiper Graça e a libertinagem – uma resposta aos críticos

Não é preciso muito esforço para encontrar críticas à Hiper Graça na internet. Também não é preciso pesquisar muito para ver que a maioria das críticas acusa a Hiper Graça de ser uma mensagem que dá “liberdade ao pecado”, que gera “libertinagem”.

Se perguntarem a um pastor da Hiper Graça, “então sua mensagem dá liberdade para pecar?” Com certeza ele responderia:

“Não!”

Porém, para os críticos HG isso não é suficiente. No debate entre Pr. Victor Azevedo e o Pr. Rodrigo Mocellin, por exemplo, Mocellin afirma que a Hiper Graça dá liberdade a libertinagem pois “alguns elementos mal colocados aqui que acabam – não de maneira direta – induzindo a isso”.1 Em outras palavras, mesmo que o ensino HG seja contra o pecado diretamente, indiretamente, seus ensinos induzem a uma vida libertina. Mocellin até já sabe da nossa resposta sobre sermos contra o pecado, mas ele acredita que nossos ensinos induzem ao pecado de uma forma “indireta” – seja lá o que isso signifique. O pastor Luciano Subirá também defende isso em seu livro “Graça Transformadora”:

Infelizmente, a graça tem se transformado, no ensino de muitos, em “permissão para pecar”. Quer por meio de afirmações diretas, quer por meio de afirmações indiretas (com pressuposições e conclusões a que esse ensino remete) … 2

Para defender seu ponto, Mocellin cita o exemplo da Igreja Apostólica Romana que expõe em sua confissão de fé uma defesa da “salvação pela Graça” e uma oposição à idolatria, mas que na prática e nos desenvolvimentos subsequentes de sua doutrina, acaba negando essas verdades fundamentais.

Assim, para Mocellin, a Hiper Graça nega qualquer envolvimento com o pecado, mas no desenvolvimento de sua doutrina e ensino acaba “flertando com a libertinagem”.

O argumento de Mocellin é estranho por dois motivos.

Em primeiro lugar, quais seriam os elementos que tornam a mensagem da Hiper Graça uma licença para o pecado? Seria a proclamação de que somente a Graça é suficiente para nos levar a uma vida piedosa? Seria a mensagem de que Cristo é suficiente para todas as facetas da vida cristã, incluindo aquela relacionada com a santidade diária?

Quem sabe, os críticos digam que damos liberdade ao pecado quando não focamos na Lei, na ira de Deus ou na mudança por esforço. Somos “culpados” de não focar em tudo isso, entretanto, não vejo qual a relação dessas doutrinas com a vida piedosa. Na verdade, o Evangelho esclarece que nenhuma dessas doutrinas pode nos conduzir a uma vida piedosa. Paulo afirma que a Lei fomenta e aumenta o pecado (Romanos 5:20; 1 Coríntios 15:56). Paulo também diz que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (Romanos 2:4) e que somente a Graça pode nos conduzir à piedade (Romanos 6:14).

Em segundo lugar, é curioso que Mocellin cite a Igreja Católica como um exemplo de conflito doutrinário quando afirma que nossa mensagem induz ao pecado “indiretamente”. Mocellin não sabe que a acusação de que a mensagem da Graça induz ao pecado é justamente uma retórica Católica, utilizada na idade média para confrontar os reformadores. Logo, o próprio argumento de Mocellin é um argumento Católico que atesta a veracidade do nosso ensino.

Os reformadores receberam o mesmo ataque. Por isso, João Calvino disse: “Como pode o remédio (graça) que deveria matar a doença alimentar a doença (pecado)?”3

O Dr. Martyn Lloyd-Jones, conhecido Teólogo Reformado, fez um comentário excepcional, demonstrando que a mensagem do Evangelho levanta falsas acusações de libertinagem. Na verdade, no debate com Mocellin, Victor até cita em parte esse comentário, mas apenas de forma resumida. Eis o que Jones diz de forma completa (foque nos destaques):

A verdadeira pregação do evangelho da salvação somente pela graça sempre leva à possibilidade dessa acusação ser feita contra ela. Não há melhor teste para saber se um homem está realmente pregando o evangelho da salvação do Novo Testamento do que isso, que algumas pessoas podem entendê-lo mal e interpretá-lo mal para significar que realmente equivale a isto, porque você é salvo somente pela graça, não importa o que você faça; você pode continuar pecando o quanto quiser, porque isso redundará ainda mais na glória da graça. Esse é um teste muito bom da pregação do evangelho. Se minha pregação e apresentação do evangelho da salvação não o expõe a esse mal-entendido, então não é o evangelho.

Se um homem prega justificação pelas obras, ninguém jamais levantaria essa questão. Se uma pregação do homem é: ‘Se você quer ser cristão, e se você quer ir para o céu, você deve parar de cometer pecados, você deve fazer boas obras, e se você fizer isso e constantemente, e não deixar de perseverar nisso, vocês se farão cristãos, vocês vos reconciliareis com Deus, e ireis para o céu’. Obviamente, um homem que prega nessa tensão nunca seria suscetível a esse mal-entendido. Ninguém iria dizer a tal homem: ‘Vamos continuar no pecado, para que a graça abunde?’, porque toda a ênfase do homem é apenas esta, que se você continuar pecando, certamente será condenado, e somente se vocês pararem de pecar poderão se salvar. Para que esse mal-entendido nunca pudesse surgir. E você pode aplicar o mesmo teste a qualquer outro tipo ou espécie de pregação. Se um homem prega que você é salvo pela Igreja ou pelos sacramentos, e assim por diante, esse tipo de argumento não surge. Este mal-entendido particular pode só surgir quando a doutrina da justificação somente pela fé é apresentada.

Há um sentido em que a doutrina da justificação somente pela fé é uma doutrina muito perigosa, perigosa, quero dizer, no sentido de que pode ser mal compreendida. Isso expõe um homem para esta carga particular. … Ninguém jamais apresentou essa acusação contra a Igreja de Roma, mas foi trazida frequentemente contra Martinho Lutero; de fato isso foi precisamente o que a Igreja de Roma disse sobre a pregação de Martinho Lutero. Eles disseram: ‘Este homem que era sacerdote mudou a doutrina para justificar o seu próprio casamento e sua própria luxúria’, e assim por diante. ‘Este homem’, disseram eles, ‘é um antinomiano; e isso é heresia’. Essa é a mesma acusação que eles fizeram contra ele. Também foi trazido contra George Whitefield duzentos anos atrás.4

Não é surpreendente? Mocellin utiliza uma retórica católica para confrontar o ensino HG! E pasmem, como Jones aponta, Roma jamais foi acusada de dar liberdade ao pecado em sua doutrina, mas Lutero foi. Por acaso já levantaram tal acusação contra Mocellin e sua mensagem? Creio que não. Já levantaram tal acusação contra o ensino HG? O tempo todo.

Assim como Mocellin, a Igreja Romana também acusava Lutero de pregar uma Graça “libertina”. É claro que Lutero não defendia diretamente uma liberdade para pecar, mas os Apologetas católicos da época poderiam facilmente dizer que INDIRETAMENTE a mensagem de Lutero levava a isso. Estamos em boa companhia!

Além disso, Mocellin e todos os críticos HG que utilizam dessa acusação, acabam provando duas coisas: 1) A Hiper Graça não é a favor da libertinagem. Se eles se esforçam tanto em dizer que damos liberdade ao pecado indiretamente, é porque estão se esforçando para encontrar indícios de que nossa mensagem – supostamente – dá legalidade ao pecado. 2) A mensagem da Graça é perfeitamente limpa de qualquer acusação. O constante esforço dos críticos em tentar encontrar provas de que damos liberdade ao pecado é uma prova da IMPECABILIDADE do que ensinamos. Isso mesmo! O Evangelho da Graça (vis-à-vis Hiper Graça) é um ensino que expõe a Graça de forma perfeita e ainda assim é impecável em sua exposição da vida piedosa. Se os críticos insistem em afirmar que damos liberdade ao pecado sem terem provas de tal acusação, se eles se empenham de forma tão forte a procurar “elementos indiretos” do nosso ensino, é porque não existem provas e não existem elementos. O esforço deles é apenas a tentativa de “manchar” uma mensagem pura, é como procurar incansavelmente provas para tentar acusar alguém que está limpo diante da Lei. Assim, quanto mais os críticos gritam e se esforçam para dizer que damos liberdade ao pecado, fica ainda mais claro que nós não damos! Do contrário, por que precisariam de tanto esforço?

Os críticos pensam que sua crítica é verdadeira porque eles a repetem várias e várias vezes, mas o inverso é verdade. Uma calúnia como essa, quanto mais repetida, mais se mostra mentirosa.

A acusação de que a mensagem da Hiper Graça dá legalidade ao pecado e a libertinagem não é uma crítica verdadeira, mas apenas uma falsa acusação. No livro, Hiper Graça: O Que Realmente Defendemos, afirmo que: “Essa acusação não é o produto de uma análise sincera do que dissemos, mas uma reação automática à proclamação da Graça de Deus.”5

Para finalizar, vou listar motivos que mostram porque a Hiper Graça NÃO dá liberdade para a libertinagem:

  1. Apontamos para Jesus, a verdadeira santidade
  2. Apontamos para a Graça, a verdadeira fonte de santidade
  3. Apontamos para a cruz, a verdadeira fonte de santidade
  4. Mostramos testemunhos de pessoas que foram libertas do pecado através da Graça
  5. Mostramos como o nosso coração é grato a Jesus pela sua Obra
  6. Afirmamos que o pecado não faz parte da nossa identidade em Cristo
  7. Afirmamos que o pecado deve ser rejeitado por causa da nossa união com Cristo
  8. Defendemos que o pecado tem consequências
  9. Acreditamos que podemos viver uma vida de vitória sobre o pecado (uma grande vida de vitória eu diria!)
  10. Cremos que o velho homem está morto
  11. Cremos que não somos mais pecadores (por isso, não existem mais desculpas para pecar!)
  12. Cremos que somos santos e devemos agir como tais!
  13. Cremos que temos a plenitude de Jesus, o Espírito Santo, o Pai, tudo o que precisamos para viver de forma correta!
  14. Defendemos que uma vida de pecado é causada por: a) Falta de entendimento sobre a graça; b) Necessidade de salvação.

Eu poderia listar muitos outros pontos que mostram CLARAMENTE que não damos liberdade para o pecado, porém, esses 14 pontos são mais do que suficientes!

Notas de Rodapé

  1. https://youtu.be/_E7v4aeAUWI
  2. Luciano Subirá, Graça Transformadora, pág. 319
  3. Citado em https://escapetoreality.org/2017/03/16/myth-9-the-hyper-grace-gospel-encourages-sin/
  4. Dr. Martyn Lloyd-Jones, Romans: Exposition of Chapter 6 (Edinburgh, Banner of Truth, 1972)
  5. Eliezer Oliveira, Hiper Graça: O que Realmente Defendemos, pág. 304
Eliezer Oliveira
Eliezer Oliveira

Tenho 25 anos e sou diretor do Blog Vida Trocada, autor dos livros E Ele nos tornou Santos, Nada Além do Sangue (Livro Publicado) e Hiper Graça: O Que Realmente Defendemos (Livro Publicado). Também sou coautor do livro Interpretando a Escritura. Sou professor do curso Universidade da Graça, Vida na Graça e Teologia com Graça, e também atuo como Escritor Fantasma para alguns ministérios. Atualmente estou cursando Teologia (ESTÁCIO), sou casado com uma escritora maravilhosa, amante da leitura e de um bom café.

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