Os cães e lobos no meio da Igreja

Em dados momentos na carreira do apóstolo Paulo, algo parece o incomodar muito no meio da igreja. Ele dá a entender que existem pessoas querendo desvirtuar o verdadeiro Evangelho e enganar a igreja de Cristo, como podemos ver a seguir:

“Eu sei que, depois da minha partida, aparecerão no meio de vocês lobos vorazes, que não pouparão o rebanho.” (Atos 20:29)

“Como já dissemos, e agora repito, se alguém está pregando a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam, que esse seja anátema.” (Gálatas 1:9,10)

“Vocês vinham correndo bem! Quem foi que os impediu de continuar a obedecer à verdade? Esta persuasão não vem daquele que os chamou. Um pouco de fermento leveda toda a massa.” (Gálatas 5:7-9)

“Cuidado com os cães! Cuidado com os maus obreiros! Cuidado com a falsa circuncisão” (Filipenses 3:2)

Podemos ver no tom de Paulo que havia situações preocupantes! Pessoas que se diziam cristãs ou que andavam no meio dos cristãos tentavam ensinar coisas completamente diferentes das que Paulo ensinava. Mas quem são estas pessoas? Bom, nós não sabemos os nomes delas, mas é possível entender a que grupo elas pertencem.

Muitos, hoje, acreditam que Paulo estava chamando a atenção para pessoas que incentivavam os cristãos a desobedecerem aos mandamentos de Deus ou a viverem uma vida de libertinagem, se afastando da santidade. Para eles, essas pessoas são lobos no meio da igreja. Isso é um equívoco.

Acho que todos concordamos que a obediência e a santidade são importantes. Porém, algumas pessoas associam estas duas palavras ao esforço humano, à luta contra a tentação, à necessidade de se provar para Deus. Elas acham que Paulo está expondo pessoas que falavam a favor do pecado e contra a Lei de Deus. Mas não é sobre isso que Paulo está falando.

Paulo tinha ódio de fato ao pecado, mas em momento algum ele fala que estes “lobos” ou “cães” no meio da igreja estão incentivando o pecado ou a imoralidade. Não é isso que estas pessoas faziam, pelo menos não intencionalmente. O objetivo delas, na verdade, era justamente o inverso. Estas pessoas queriam exigir obediência à Lei, achavam que o Evangelho precisava também ser vivido no esforço humano. Isso mesmo que você leu!

Vejamos agora os contextos para comprovarmos isso, iniciando pelos textos da carta aos Gálatas:

“Estou muito surpreso em ver que vocês estão passando tão depressa daquele que os chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual, na verdade, não é outro. Porém, há alguns que estão perturbando vocês e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu pregue a vocês um evangelho diferente daquele que temos pregado, que esse seja anátema. Como já dissemos, e agora repito, se alguém está pregando a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam, que esse seja anátema.” (Gálatas 1:6-9)

Preste bem atenção no que Paulo escreve aqui! Ele diz que os gálatas estavam largando a graça e indo para um evangelho diferente. Estavam se afastando das boas notícias do favor imerecido de Deus! Ou seja, estavam começando a pregar que precisavam das obras da Lei para serem justificados. Não bastava somente a graça. Isso irrita tanto a Paulo que a carta toda foi escrita para expor os defensores da Lei, como podemos ver na outra passagem citada:

“Vocês que procuram justificar-se pela lei estão separados de Cristo; vocês caíram da graça de Deus. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor. Vocês vinham correndo bem! Quem foi que os impediu de continuar a obedecer à verdade?” (Gálatas 5:4-6)

Acho que ficou bem claro agora, os responsáveis por atrapalhar o evangelho na Igreja dos gálatas. Foram os pregadores da lei. E Paulo já adverte, quem se justifica na lei não está com Cristo. Por que ele diz isso? Porque quem acha que pode se tornar justo por obedecer qualquer mandamento está invalidando a obra de Cristo. Não existe mais nenhuma obra humana, nem mesmo de obediência, que nos torne justos. Só a obra de Jesus nos torna justos. Devemos apenas crer nesta verdade!

Tá, mas e os outros textos? Quem garante que os tais “cães” e “lobos” no meio da igreja também são pregadores da lei? Vamos mais uma vez para o contexto!

“Quanto ao mais, meus irmãos, alegrem-se no Senhor. Escrever de novo as mesmas coisas não é um problema para mim e é segurança para vocês. Cuidado com os cães! Cuidado com os maus obreiros! Cuidado com a falsa circuncisão! Porque nós é que somos a circuncisão, nós, que adoramos a Deus no Espírito e nos gloriamos em Cristo Jesus, em vez de confiarmos na carne. É verdade que eu também poderia confiar na carne. Se alguém pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: fui circuncidado no oitavo dia, sou da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, eu era fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Na verdade, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele perdi todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, mas aquela que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé.” (Filipenses 3:1-9)

Olha quem aparece ali novamente! De novo Paulo fala sobre a lei. É interessante que ele usa o termo “carne” para falar sobre sua identidade na lei. Justamente porque a lei exige obras da carne. Ela glorifica a pessoa que acerta e condena a que erra. Por isso Paulo fala que nós nos gloriamos em Cristo e não mais na carne, porque a lei não glorifica a Cristo e sim o indivíduo que a tenta seguir. Paulo diz ainda que largou completamente esta justiça da lei, que ele chama de “justiça própria”, e avançou para a justiça de Cristo, que se alcança pela fé e não por obras.

Para encerrar, vejamos o contexto da história de Atos:

“Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, desde que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. E agora eu sei que todos vocês, em cujo meio passei pregando o Reino, não mais verão o meu rosto. Portanto, no dia de hoje testifico diante de vocês que estou limpo do sangue de todos, porque jamais deixei de lhes anunciar todo o plano de Deus. Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, aparecerão no meio de vocês lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que até mesmo entre vocês se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás de si. Portanto, vigiem, lembrando que, durante três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, cada um de vocês. Agora, pois, eu os entrego aos cuidados de Deus e à palavra da sua graça, que tem poder para edificá-los e dar herança entre todos os que são santificados.” (Atos 20:24-32)

Paulo se despedia dos bispos da igreja de Éfeso e fazia alguns avisos para eles. Ele diz que no meio deles se levantarão lobos que tentarão perverter o rebanho, ou seja, tirá-los do evangelho que Paulo os havia ensinado. E que evangelho é este? Como o próprio Paulo diz é o “evangelho da graça de Deus”. Os lobos não poupam o rebanho, eles tentam tirar o rebanho do descanso que o Pastor (Jesus) dá livremente.

A palavra da graça é a mensagem do descanso. Por isso, Paulo os entrega à palavra da graça de Deus. Quem está edificado na graça não dá ouvidos às malignas mensagens que tentam nos acorrentar na lei e nos afastar do descanso que há em Jesus. Não existem obras humanas a serem feitas para completar o que Jesus já fez, o que nos resta é crer nele e entrar no descanso (Hebreus 4:3).

Os alertas de Paulo ainda são válidos para nós. Existem pessoas carnais no meio da Igreja que querem aprisionar outras em discursos legalistas, forçando-as a viverem pelo esforço próprio, evidenciando a justiça carnal e afastando as pessoas de uma vida de fé. Ainda que queiram ajudar a livrar os outros do pecado e a aumentar a santidade, estas pessoas, na verdade, estão fortalecendo mais o pecado e a condenação. Precisamos estar atentos e nunca desistir de incentivar nossos irmãos a conhecerem o evangelho da graça de Deus para que eles vivam no verdadeiro descanso, livres das prisões do esforço próprio!

Lucas Almeida
Lucas Almeida

No final de 2015 fui tocado pela mensagem da Graça. De lá pra cá, Deus vem me ajudando a conhecer mais das riquezas do Seu Favor. Tenho prazer em poder escrever hoje sobre as Boas Novas de Cristo. Congrego na Nova Igreja da Barra - RJ, onde sigo aprendendo sobre a Graça, e sou graduando em Psicologia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *